Titanopólio - etapa 2009/12

 

Quando “Tough Irish” Mare entrou na directoria de Titanopólio relinchando efusivamente, o potro foi recebido não com o júbilo que imaginara, mas com uma frieza arrepiante.

 

E as surpresas não se ficaram por aí: em tom agreste, a directoria da corrida informou o cavalito de Moma que o jogo Titanopólio havia sido suspenso até que se averiguassem alguns indícios de impropriedade; como consolação pelo seu brilhante esforço, a directoria atribuía-lhe uma roseta de latão e uma trela onde estava inscrito um dos mandamentos do jogo: após todos os trotes e galopes, é preciso repor a pista nas condições estipuladas pelos contratos ambientais.

 

De regresso ao estábulo - orelhas caídas e crina murcha - “Tough Irish” Mare soube então que a sua equipa não estava na mira das investigações - segundo já se sabia, os indícios de batota haviam surgido na última metade da volta final (2011/12), e apontavam para uma possível mancomunação entre Lilly Billington e Rio Tonto.

 

As suspeições despontaram quando começou a circular um clipping de notícias sobre a mineração no mundo real, mais precisamente sobre a previsível venda de activos diamantíferos por parte da BHP Billiton e Rio Tinto a um temível dragão das aquisições: KKR & Co. – o SMS incluía também um intrigante papo tecnológico quanto aos pastos titaníferos de Chibuto.

 

Ciente de que “a realidade é sempre mais apavorante do que qualquer ficção”, e patente que havia sido o estranho comportamento de alguns dos equídeos, a directoria Titanopólio achou prudente interrogar-se quanto à eventualidade de, por contágio, o jackpot desta ficção - o diamante marinho - ter sido fatalmente infectado pela realidade.

 

Embora ainda não se conheça a versão final dos Termos de Referência, um dos três directores Titanopólio deixou saber que a investigação durará menos de seis meses, incluindo a avaliação custo/benefício do impacto da realidade na ficção.

 

josé lopes

 

maio 2012

News clips disponíveis (maio 2012):

 

Rio spruiks diamond assets to US investors

 

by: Sarah-Jane Tasker

From: The Australian

April 26, 2012 12:00AM

 

RIO Tinto has been talking up its diamonds business to US investors, highlighting price and demand strength for the sector as it continues to identify assets that could be divested.

The diversified global major, which last month put its diamond assets under review, told US investors this week the sector had strong fundamentals but the scale of its assets could suit a different ownership structure

 

 

BHP Billiton also has its diamond assets under review and private equity firm KKR is rumoured to be considering the two diamond units with view to a merger that would create a multi-billion-dollar company to rival the giants of the sector.

 

Rio's and BHP's assets account for about 16 per cent of global diamond supply. Combining their operations would create the world's third-largest producer behind De Beers, the South African giant controlled by Anglo American, and Alrosa, based in Russia.

 

 

“… e assim nascia o projecto Titânio no Chibuto.

 

Todavia, enredado em burocracias e infindáveis revisões técnico-económicas, o projecto Corridor Sands acabou por não se materializar e, em 2004, viria a ser repassado à BHP Billiton quando esta comprou a Western Mining Corporation Resources Limited (WMC) por 7 biliões USD em cash – por via desta aquisição, a BHP Billiton passava então a deter um estratégico ramalhete de recursos minerais estratégicos: Olympic Dam (38% do urânio mundial), várias minas de cobre e de níquel geo-dispersas e os potencialmente excitantes depósitos do Chibuto.

 

Sucede que, à época, a BHP Billiton estava associada à Rio Tinto numa joint venture que há anos explora um dos maiores depósitos titaníferos do mundo em Richards Bay (RBM/África do Sul) e, assim sendo, o eventual desenvolvimento do mega-jazigo de Chibuto, uns poucos quilómetros a Norte, passou seguramente a ser um tópico incontornável na concertação estratégica entre ambas as mineradoras.

 

É pois presumível que a Rio Tinto, que é quem gere e opera a RBM, deverá ter comunicado à BHP Billiton pelo menos três preocupações.

 

A primeira estaria certamente relacionada com as negativíssimas implicações que um projecto com a dimensão de Corridor Sands/Chibuto teria nos lucros da operação conjunta em Richards Bay.

 

A segunda preocupação deverá ter assumido a forma de aviso cautelar quanto à potencial perturbação que o projecto BHP Billiton/Corridor Sands poderia trazer, não só à viabilidade dos USD 1100 milhões que a Rio Tinto estava a investir no outro lado do Canal de Moçambique em Tolagnaro/Madagáscar, mas também à rentabilidade das refinadoras de titânio que a Rio Tinto opera no Canadá (Quebec Iron & Titanium); nesta ocasião, é natural que tenha sido relembrado à BHP Billiton que a Rio Tinto continuava a deter duas valiosas licenças de exploração de areias pesadas em Gaza e Inhambane, ligeiramente a norte de Chibuto.

 

Por último, e presumivelmente em jeito de ironia encapotando um cinismo terminal, a Rio Tinto deve ter feito notar à BHP Billiton que o excesso de argilas nos depósitos Chibuto não permitiria a utilização de métodos de extracção por dragagens pelo que as extracções tornar-se-iam muito pouco competitivas – um condicionalismo técnico crucial cujo teor veio a ser reiterado mais tarde quando, num inusual comentário público, Tom Albanese (CEO da Rio Tinto) voltou a referir que uma mineração a seco em Chibuto era economicamente inviável.

 

Foi portanto sem grande surpresa que, em 2007, e pretextando impreparação tecnológica, a BHP Billiton anunciou o protelamento do projecto Corridor Sands; posteriormente, em Março 2009, a mineradora anunciava a sua completa desistência sob alegação de que “o valor detectado no projecto Chibuto era inadequado para justificar mais desenvolvimentos.”

 

Meses mais tarde, um inusitado pedido da BHP Billiton para o prolongamento dos direitos de mineração que terminavam em Outubro de 2009 não foi aceite pelo governo de Moçambique e, em Outubro 2010 foi lançado um concurso internacional para “apurar uma empresa com capacidade de extracção, concentração, beneficiação e produção de pigmentos de titânio no Distrito de Chibuto, província de Gaza.”

 

Foram duas as empresas respondentes: a MOD Chibuto Sands Bid Consortium, uma empresa “ainda por se constituir e registar” e que por isso foi liminarmente excluída, e a Rock Forage Titanium Lda, uma empresa registada em Moçambique com capitais canadianos e moçambicanos que foi declarada como vencedora do concurso.

 

Apesar de ainda decorrerem negociações sobre um acordo de princípios com vista à formalização de um eventual Contrato Mineiro, o músculo técnico-financeiro que o desenvolvimento do depósito Chibuto de imediato exige (mais de $ 500 milhões para o start up) sugere não ser crível que, de per se, um júnior como a Rock Forage Mining (RFM) seja capaz de implementar quaisquer desenvolvimentos significativos até 2020 - a não ser que, por trás da RFM, se posicione algum nome sonante dos mineradores de titânio e/ou algum fundo soberano (China, Índia, Koweit, Qatar, Abu Dabi p.e.).

 

Mas esta é uma hipótese muito pouco plausível se se atender aos padrões da indústria, pelo que, neste estudo, não serão consideradas quaisquer exportações marítimas a partir dos depósitos de Chibuto antes de 2020.

 

Entretanto, e patente que é o consenso tácito entre as grandes mineradoras quanto à prematuridade de titânicas entradas no mercado - especialmente numa altura em que ninguém quer aparecer como o abutre dos ex-depósitos BHP Billiton – importa recordar que a Rio Tinto ficou com as suas rotas completamente abertas para a exploração de areias pesadas em Madagascar (Mandena, Ste-Luce e Petriky), onde, em Maio 2009, deu início a exportações titaníferas a partir do porto de Ehoala recentemente construído numa adjacência de Fort-Dauphin (ponta sudeste de Madagascar).

 

Nesta operação mineira, a QIT Madagascar Minerals (QMM), que é detida a 80% pela Rio Tinto e pelo Estado de Madagascar (20%), irá extrair ilmenite (60% de teor de dióxido de titânio) durante 40 anos numa faixa de 6,000 hectares junto a uma costa até aqui caracterizada como uma das mais ricas em biodiversidade.

 

Com um investimento total em Madagascar na ordem dos $940 milhões, a Rio Tinto inicialmente minerará o depósito de Mandena (2,000 ha) de onde exportará 810,000 toneladas de recursos titaníferos antes mesmo de 2020, num crescendo que poderá atingir 2.2 MTPA por volta de 2025.

 

A exportação destes recursos em direcção à sua unidade de processamento no Canadá, onde foram investidos $160 milhões adicionais na Quebec Iron & Titanium, não envolverá significativos movimentos marítimos no Índico Sul: menos de 30 navegações anuais, com uma ocupação portuária em Ehoala de 1 semana por mês. Complementarmente, a natureza multi-uso do novo porto de Ehoala, que é de utilidade pública, estimulará certamente algum crescimento da intensidade marítima em termos de carga-geral e de cruzeiros turísticos.

 

Mas rebobine-se por um momento a saga do titânio no milénio III, e recorde-se que foi no Quénia que tudo começou.”

 

in “Corredores Mineiro-Energéticos 2020 - impactos marítimos do Afro-Índico no Canal de Moçambique” - por José Lopes (no prelo).

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cavalos em jogo

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# 1

# 2

 

disclaimer

 

muito embora em Titanopólio os vectores do jogo possam ser fortemente influenciados pelas decisões dos imperadores do titânio – e por isso mesmo há sempre dicas importantes a reter nos links públicos – eu aqui garanto que é pura coincidência qualquer semelhança entre os cavalos e as seguintes empresas: BHP Billiton, Rio Tinto, Kenmare, Tiomin, Anglo-American, Mineral Commodities, etc.